18 de março de 2012

Perdão em uma cena.

Eu associo o perdão à uma cena antiga, onde há uma pessoa que já considerei muito andando tranquilamente em um chão batido, como se cada passo dado fosse um dia da vida indo embora. Enquanto ando devagar e cansada, a pessoa continua firme e forte lá na frente, seguindo a vida de uma maneira não necessáriamente certa, porém boa, não olhando pra trás pra saber se estou firme ou se eu tropecei em alguma decepção pelo caminho.
Aos poucos me levanto, limpo a cara cheia de areia enquanto continuo o caminho, os dias vão passando e os passos não param. Vou caminhando, seja mancando, seja com muletas, mas estou alí, independente de como. Sigo e com o tempo acabo me tornando mais forte, mais resistente, ou pelo menos finjo. Perco a pessoa de vista, afinal, os dias ficaram mais longos para mim. Assim que eu levanto completamente, já consigo caminhar sem as muletas, que jogo num terreno no meio do caminho e aperto o passo, meus dias passam mais rápido.
O tempo passa e depois de muito andar vejo alguém logo alí, caído a alguns passos e lembro de como fiquei lá atrás, caída, sem forças nem pra rastejar, com dias que pareciam não acabar nunca. Chego ao lado e olho para pessoa, o olhar sorrateiro dela deixa evidente o inchaço do rosto, tentando disfarçar os olhos túrgidos e as olheiras por estar chorando a muitos passos, tenta disfarçar e acena. Dou aquela risadinha de canto de boca, pisco leve e olho pra frente, vejo que tem muito pra ir e que estou bem, tenho condições de ajudar alguém a ir comigo. Dou vários passos e quando olho pra trás percebo que ela não saiu do lugar, e só piora. Passo a mão na cabeça, no rosto, penso no quanto eu poderia cair pra voltar e em quantas pedras eu posso tropeçar, mas mesmo assim eu volto. Respiro fundo e estico o braço, solto com uma voz leve aquele "vem" que todos um dia gostariam de ouvir. Seguro firme com as duas mãos e mantendo-a em pé por um tempo. Abraço forte, limpo um pouco a sujeira de sua cara, sorrio e volto a caminhar.
Posso ajudar a levantar, mas não posso caminhar pela pessoa. E hoje, toda vez que olho pra trás, lembro que só existe vida para frente.

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